domingo, 8 de dezembro de 2019

Translucência Nucal

TRANSLUCÊNCIA NUCAL


Sem sombra de dúvidas, a Obstetrícia foi a especialidade médica que mais obteve benefícios com a ultrassonografia. Um bom exemplo disso é a pesquisa da translucência nucal, que consiste na pesquisa de acúmulo excessivo de líquido na nuca fetal, achado que pode estar relacionado a anomalias cromossômicas, malformações fetais e síndromes genéticas.
No passado, o único parâmetro para atribuir risco para a incidência da síndrome de Down era a idade materna superior a 35 anos. Entretanto apenas cerca de 30% dos fetos com Síndrome de Down nascem de mulheres com mais de 35 anos.
O acúmulo de fluido nucal no primeiro trimestre foi primeiramente descrito por um estudo caso - controle de Szabó & Gellen, que observaram acúmulo superior a 3 mm em todos os fetos com trissomia do cromossomo 21 (sete casos) e em apenas um feto, de um total de 105, com cariótipo normal. Isso proporcionou um avanço do conhecimento no aconselhamento do casal sobre os riscos de anomalias cromossômicas, determinando consideráveis mudanças no diagnóstico pré-natal de primeiro trimestre.

Os mecanismos fisiopatológicos que explicam esse marcador ultrassonográfico transitório ainda não estão bem estabelecidos. Alguns eventos que ocorrem nessa época da gestação poderiam eventualmente esclarecer o acúmulo transitório de líquido na região da nuca do feto, que é atribuído a alterações da drenagem linfática fetal e/ou, particularmente, a distúrbio hemodinâmico do feto devido à insuficiência cardíaca fetal.
A medida da translucência nucal deve ser realizada quando o feto tem entre 45 e 84 mm de comprimento, medindo da cabeça à nádega. Isto corresponde a cerca de 11 a 14 semanas de gestação contadas a partir do primeiro dia da última menstruação. Por questão de experiência própria, sugiro às pacientes que atendo que realizem o exame entre 12 e 13 semanas, pois isso diminui o risco de impossibilidade de estudo devido aos dois extremos da pesquisa. Particularmente, quando realizo o primeiro exame para diagnóstico da gravidez, contraindico o exame próximo à data máxima de 13 semanas e 6 dias, pois qualquer imprevisto na vida particular da paciente que a impossibilite de comparecer ao exame poderá fazer com que se perca a oportunidade da pesquisa.
Consideramos um risco aumentado quando o resultado é igual ou superior a 2,5 mm. Aceita-se que a translucência nucal tenha uma sensibilidade de cerca de 80 a 90%. Isto significa que 80 a 90% dos fetos com a Síndrome de Down serão classificados como “alto risco”. Portanto cerca de 10 a 20% dos fetos com a Síndrome de Down tem medida de translucência nucal normal.

Translucência Nucal normal


Translucência Nucal aumentada

Cabe mais uma vez salientar que a medida da translucência nucal não é um teste do tipo positivo/negativo, ela apenas define qual grupo tem alto ou baixo risco. Ou seja, uma translucência nucal aumentada não fecha  diagnóstico de síndrome de Down ou de qualquer outra síndrome, ela apenas demonstra risco aumentado para isso. Da mesma forma que uma translucência nucal alterada não exclui a possibilidade de Down, ela apenas verifica que o risco é baixo.



Fontes:

Descomplicando o BI-RADS®


Quase diariamente sou interrogado pelas minhas clientes o que significa esse BI-RADS®. 

BI-RADS® é um acrônimo para Breast Imaging Reporting and Data System (Sistema de Laudos e Registro de Dados de Imagem da Mama) e consiste em uma classificação internacional na avaliação das mamas. Inicialmente foi criado para a mamografia, mas hoje o BI-RADS® aplica-se para a ultrassonografia e para a ressonância magnética. Tem por finalidade padronizar a avaliação trazendo maior confiabilidade.

O BI-RADS® apresenta 7 categorias (de 0 a 6), mas uma confusão comum entre as clientes é achar que se trata de um processo evolutivo: passa de BI-RADS® 1 para BI-RADS®2 e assim por diante. Na verdade, aumento de categoria é bem menos comum que a redução.



Resumindo a classificação de BI-RADS®:
Categoria 0 – Existe algo na mama que o método não consegue fornecer informações sobre sua benignidade ou malignidade. Desta forma a conduta é realizar outro método para tentar elucidar o caso
Categoria 1 – Mamas normais, sem nenhum achado. Nenhum cuidado em especial.
Categoria 2 – existe algum achado, mas este é certamente benigno. Nenhum controle em especial.
Categoria 3 – existe algum achado que provavelmente é benigno (mais de 98% de chance), mas ainda não há tempo hábil para classifica-lo como benigno. Desta forma está indicado controles em 6, 12 e 24 meses. 
Categoria 4 – existe uma lesão que apresenta critérios de malignidade, mas não todos, sendo considerada suspeita. O risco de malignidade é de mais de 80%. Está indicada biópsia (Core Biopsy ou Mamotomia).
Categoria 5 – lesão com alto risco de malignidade (95%). A biópsia é obrigatória.
Categoria 6 – aplica-se a acompanhamento de pacientes que já apresentaram diagnóstico positivo para câncer e estão em tratamento.

Como disse anteriormente, a classificação não indica um processo evolutivo. A Categoria 3 é a mais complexa de todas, pois depende da história clínica. Um achado que foi classificado como 3 (provavelmente benigno) deve ser avaliado com base em exames anteriores e acompanhado durante 2 anos. Se permanecer estável cai para Categoria 2, se variar (aumentando, alterando seus contornos ou apresentar microcalcificações) pode ir para Categoria 4 ou 5, dependendo dos achados. A Categoria 3 é a mais complexa pois sem exames anteriores uma lesão pode se manter nessa categoria indefinidamente, o que é um erro conceitual. Por conceito, uma lesão só poderia ser considerada como 3 por no máximo 2 anos. Depois deste prazo, ou ela cai para BI-RADS® 2 ou sobe para 4.

Alguns fatores são determinantes para uma categorização acertada: a comparação com exames anteriores, comparação com o exame que possa ter gerado o atual estudo (por exemplo, uma ultrassonografia solicitada por causa de um achado à mamografia), história clínica e exame físico (palpação e ectoscopia).

Costumo sempre informar as pacientes para levar o último exame que elas dispõem quando forem realizar nova avaliação, pois isto aumenta a sensibilidade do método na detecção de lesões. Aconselho a guardarem todos os exames que realizou e que, na impossibilidade disto, guarde pelo menos o último exame para comparação futura.

Existe mais um problema quando a paciente não leva um exame prévio, uma lesão que já havia sido categorizada como 2 (benigna) pode acabar sendo categorizada como 3 por causa da falta de um histórico de benignidade, ou como zero, que implica em necessidade de outro método e também gerar uma ansiedade desnecessária. Na pior das hipóteses, pode ser classificada como 4ª (uma subdivisão da Categoria 4) que indicará a necessidade de uma biópsia conforme disse anteriormente que, neste caso específico, será totalmente desnecessário pois a lesão já havia sido comprovadamente classificada como benigna.

Evite ansiedade. Quando pegar seu resultado de exame da mama leve ao seu médico ou médica para que a conduta correta seja estabelecida. Nem toda alteração é maligna, por isso não há motivo para alarde. 

Faça seus exames de rotina e leve sempre os anteriores para comparação ou correlação. A prevenção sempre foi, continua sendo e sempre será o melhor remédio.

Leandro Lemos